Quantos % de visão você tem?
O tema do blog hoje é falar sobre porcentagem de visão de uma pessoa e a importância que isso tem na prática oftalmológica e no dia-a-dia dos pacienetes.
Uma pergunta que eu recebo quase todos os dias aqui na clínica é: “Dr, quantos % de visão eu tenho?”
Essa é uma pergunta que aguça muito a curiosidade porque nós temos a tendência de querer colocar tudo em números. Os números, porcentagens e graus nos trazem uma segurança de padronização e nós temos essa tendência de querer entrar em padrões pré estabelecidos.
Mas hoje eu gostaria de descostruir um pouco essa importância e vou te explicar porque.
Primeiramente, acho importante essa descontrução porque nós não somos iguais e não temos que nos preocupar em não nos taxar através de números pré estabelecidos. Claro que os números ajudam a criar parâmetros da normalidade e o que é anormal, mas não podemos dar excessivo valor a isso quando se trata da visão.
Agora vou te explicar quais são os critérios de medir a visão de uma pessoa quando ela chega no consultório:
- Acuidade visual: essa é a medida que temos quando uma pessoa lê as letras na tela do consultório. O objetivo é avaliar qual e menor letra que a pessoa consegue ler e temos, a partir daí, uma noção se está enxergando bem ou não. É a forma mais conhecida de medir a visão e onde a maioria dos médicos se baseiam na tomada de condutas. Mas ela não é a única.
- Velocidade de leitura: a dificuldade de leitura é uma das principais queixas quando alguém perde a visão. A velocidade de leitura aumenta na infância à medida que o desenvolvimento intelectual melhora, sendo 60 palavras/min aos 6 anos de idade até 150 a 250 na idade adulta.
- Campo visual: o campo periférico de visão é essencial para interação ambiental, visto que permite visualização de objetos que não estão no centro da nossa visão e que não estamos focando diretamente. A perda de visão periférica pode levar a dificuldades de mobilidade, direção de veículos e locomoção independente.
- Visão de cores: a perda de visão de cor pode ser congênita ou adquirida. A forma mais comum é o daltonismo, mas formas adquiridas incluem doenças da retina e do nervo óptico, além da catarata.
- Sensibilidade ao contraste: é a capacidade de identificar contrastes entre superfícies adjacentes. O contraste é importante na vida diária para reconhecimento de rostos, degraus de escada, irregularidades no chão e enxer um copo dágua. Uma pessoa que tem redução de sensibilidade ao contraste pode ter dificuldade de desempenhar essas atividades.
- Eletrofisiologia ocular: similar ao eletroencefalograma e ao eletrocardiograma, usamos eletrodos posicionados em locais específicos para conseguir avaliar a função elétrica da visão.
Deu pra ver que são muitas as maneiras de medir a visão de uma pessoa, não é mesmo? Quando a gente fala sobre porcentagem de visão, estamos fazendo uma avaliação parcial de uma pessoa. Na verdade, a visão é um sentido e que tem diversos aspectos funcionais na vida de uma pessoa. A acuidade visual isolada não traduz o desempenho visual global.
Os outros critérios que eu citei acima são tão importantes quanto a % e devem sim ser considerados como valiosas formas de acompanhamento da qualidade da visão.
Por isso, minha mensagem é que não devemos nos preocupar somente com o número, mas também com a qualidade da visão. E qualidade não pode ser colocada em porcentagem.
Você concorda com isso? Mande seus comentários para mim.
Nos vemos
Dr Emmerson Badaró