Lágrimas de Coronavirus

O potencial risco de transmissão do Covid-19 através das lágrimas e secreções oculares é uma preocupação entre os oftalmologistas. Apesar do novo corona vírus poder causar conjuntivite e existir potencial de transmissão da doença pulmonar através dos olhos, este risco é considerado baixo até o momento.
Médicos do instituto nacional de oftalmologia de Singapura tentaram detectar o vírus em pacientes sabidamente infectados, mas as lagrimas não se apresentavam infectadas. Em diversos outros estudo em pacientes sabidamente com pneumonia por Covid-19, não foi possível identificar o vírus nas secreções oculares.

Então como os pacientes apresentam conjuntivite pelo Covid-19 se o vírus não está sendo identificado nos olhos? Bem, esta é uma pergunta ainda complexa com o conhecimento que temos hoje, mas um dos motivos é o pequeno volume de amostra para estudo, visto que secreções oculares (lagrimas), não são tão abundantes. Desta forma, pode ser que o vírus esteja lá, mas não estejamos conseguindo vê-lo.

Outro motivo poderia ser a época em que as amostras foram colhidas, visto que a fase da doença de maior replicação do vírus é desde quando o paciente não apresenta sintomas até apresentar sintomas leves, e os estudos até hoje priorizaram a coleta de amostras oculares em pacientes com fase da doença pulmonar. Com isso, pode ser que vírus esteve lá, mas no momento da coleta das amostras já estava com queda de concentração ou não mais presente.
Então, tentando ser prático, qual preocupação devo ter com o vírus em relação aos olhos? Bem, até o momento o que sabemos é que o Covid-19 causa uma conjuntivite folicular com características clínicas idênticas a do adenovírus, que é o vírus causador da conjuntivite viral normal, aquela mais frequente e que conhecemos. Não temos evidência de que o Covid-19 cause lesões na conjuntiva ou outras partes da superfície do olho que causem gravidade ou sequelas graves.

Apesar disso, o potencial de dano a estruturas internas do olho por migração pela corrente sanguínea ainda está sendo estudado e merece nossa atenção. Estudos novos vão nos mostrar o real risco de lesões oculares.

Além disso que já foi exposto acima, o potencial de transmissão é alto quando falamos da mucosa respiratória, o que favorece a transmissão através da saliva e perdigotos, que são pequenas partículas que ficam suspensas no ar enquanto falamos. Assim, o risco de transmissão durante a consulta oftalmológica com contato facial próximo é consideravelmente alto. Por isso, devemos evitar conversar durante o exame oftalmológico enquanto médico e paciente estiverem com rostos próximos para proteção de ambos.

Para nos protegermos ainda mais, todo instrumento ou superfície que o paciente tenha contato deve ser desinfetado antes e após o exame. O Covid-19 é muito estável em superfícies de plástico e de aço inoxidável e esta limpeza deve ser realizada com álcool 70o ou hipoclorito de sódio 0,1%. Estas práticas já estão sendo adotadas na Viver oftalmologia com o protocolo de “atendimento seguro em época de pandemia”.

Para saber mais sobre todas as medidas adotadas pela clínica para proteção, veja nosso blog e siga as redes sociais.

Tempos sem precedentes e novos requerem atitudes enérgicas e sem precedentes, com protocolos renovados frequentemente. Nós estamos e vamos continuar revendo as condutas mais atualizadas para controle da doença e cuidando dos nossos pacientes modificando os protocolos de atendimento à medida que novos dados aparecerem e novas orientações dos órgãos de saúde locais e federais forem surgindo.

Juntos continuaremos a usar as melhores níveis de evidência disponíveis para criar práticas de atendimento com máximo de segurança e que podemos oferecer a nossos pacientes, funcionários e a nós mesmos.

Fiquem seguros e se cuidem,

Dr Emmerson Badaró

SOBRE O AUTOR

Dr. Emmerson Badaró

Especialista em retina clínica e cirúrgica com sub-especialização em mácula pela Escola Paulista de Medicina, Unifesp. Possui doutorado pela mesma instituição e pela Tufts Medical Center, de Boston, EUA. Membro da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo, é autor de diversos capítulos de livros e artigos de oftalmologia.

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